BREVE HISTÓRIA DO LEONISMO

            No dia 13 de janeiro de 1879, num ardente e poeirento posto de armas chamado Fort Thomaz, no estado do Arizona, Estados Unidos, nasceu Melvin Jones.   E nasceu no meio de constantes ataques indígenas.   Seu pai era John Calvin Jones, capitão de exército que servia sob as ordens do general Nelson Miles, famoso na luta contra os índios.   Melvin viveu naquele local até 1886, quando o renomado chefe apache Gerônimo foi capturado e desterrado para uma reserva no estado de Oklahoma.   O capitão Calvin Jones, que comandava a tropa, foi então transferido para o norte, fato que agradou sua esposa Lydia e o filho Melvin.

            Como seus pais se mudavam constantemente de um lado para outro, por força das atividades militares do capitão Jones, Melvin foi educado por tutores particulares.

            Saindo do Arizona, Melvin passou o resto da sua infância no estado do Missouri, onde frequentou colégios secundários em Kanoka e Saint Louis, indo depois para Quincy, no estado de Illinois, onde cursou a Union Business College, transferindo-se posteriormente para o Chaddock College, onde estudou advocacia.

            Como todo jovem, Melvin ficou indeciso sobre sua carreira:  não sabia se seria advogado, curso que estava completando, ou tenor, já que possuía bela voz e gostava de cantar.  No meio dessa indecisão, mudou-se para Chicago.

            Melvin foi para Chicago com 21 anos de idade.  Sempre foi um rapaz muito popular entre seus colegas.  Em sua mudança para a cidade grande ele não perdeu nada da sua espontaneidade e bom humor, que sempre o caracterizaram dentro do seu círculo de amizades.

            Já familiarizado com a cidade grande, Melvin entrou para o escritório de Johnson & Higgins Insurance Brokers.   Dedicando-se ao emprego, logo se tornou um profundo conhecedor do ramo de seguros.  Isso fez com que ele, mais tarde, organizasse sua própria empresa, a Melvin Jones Insurance Agency.

            Casou-se em 1909 com Rose Amanda Freeman, que na época era uma conhecida campeã de golfe norte-americana.

            No ano de 1913, no mês de março, aos 34 anos, e com sua seguradora prosperando vertiginosamente, Melvin foi convidado para ingressar no prestigioso “The Business Circle” (Círculo de Negócios) de Chicago, façanha rara para um jovem que iniciou suas atividades como dono de uma agência de seguros.  O Círculo era constituído por um grupo de homens que se dedicavam à promoção da reciprocidade comercial e profissional.

            Em janeiro de 1914 Melvin Jones já era Secretário do Círculo de Negócios, onde, como tal, introduziu muitas ideias novas no referido clube de operações.

            Certo dia, notando a apatia cada vez maior em seus companheiros de Clube, Melvin se perguntou:  “Que tal se esses homens que são bem sucedidos graças à sua energia, inteligência e ambição usassem seus talentos em prol das comunidades?”.   E isso era aliado à sua filosofia pessoal de que “ninguém avança na vida se não começa a fazer alguma coisa pelo próximo”.   Ele tinha a consciência de que a força coletiva de outros clubes, semelhantes ao seu, poderia ser encaminhada para servir desinteressadamente a pessoas mais carentes e necessitadas.   Essa ideia ficou martelando na sua cabeça por muito tempo.

            Durante o ano de 1916, com o apoio do seu clube, Melvin, juntamente com sua esposa Rose, que foi sua grande incentivadora, gastaram noites e mais noites escrevendo para homens de outros clubes existentes nos Estados Unidos, pedindo-lhe que formassem uma Associação Nacional, cujo primeiro interesse seria o de servir aos outros ao invés dos seus sócios.   Algumas respostas foram tremendamente negativas, trazendo uma espécie de repreensão no estilo do “cuide da sua vida” ou “trate dos seus negócios e deixe os nossos”.   Outras questionaram e se prontificaram a participar.   O casal trabalhou continuadamente respondendo à verdadeira avalanche de cartas cheias de perguntas e solicitando outros detalhes.

            Do esforço dispendido durante meses e meses resultou que, no dia 07 de junho de 1917, uma quinta-feira, foram reunidas 12 pessoas, inclusive Melvin Jones, na sala leste do Hotel La Salle de Chicago.  Essas pessoas representaram 8 clubes.  Apesar da divergência de interesses e personalidades, a reunião logrou o êxito esperado.  Como existia um clube com o nome de Lions (o Royal Order of Lions), este foi escolhido para a nova organização.  E o nome de Leão foi escolhido porque sua figura ímpar e imponente consta na literatura e monumentos da maioria dos povos do mundo, simbolizando o valor, a força, a fidelidade e a ação.  Foi indicado para presidente daquela entidade que estava sendo fundada o cirurgião Dr. William Woods, de Evansville, estado de Indiana, e que representava a Royal Order of Lions, e para secretário Melvin Jones.  Ficou decidida a convocação  imediata de uma convenção, logo que os representantes obtivessem a ratificação dos seus clubes e outros que seriam igualmente convidados.

            Nos dias 08, 09 e 10 de outubro de 1917, no Hotel Adolphus, em Dallas, estado do Texas, foi realizada a 1.ª Convenção, com a presença de 37 delegados e 8 suplentes, representando 22 clubes e 8 estados.   Presentes também muitos observadores interessados.  Ao final da Convenção, estava fundada a Associação Internacional de Lions Clubes.   O último dia da reunião, 10 de outubro, foi declarado “Dia da Fundação” do Lions Internacional.   O Dr. William Woods e Melvin Jones foram confirmados como presidente e secretário-tesoureiro da nova entidade.  Os convencionais aprovaram também o Estatuto e as cores do leonismo.

            (Aqui, por dever de consciência, sou obrigado a abrir um parêntese.  Dirigentes leonísticos mais antigos, e de elevado saber e conhecimento, chegam a levantar dúvidas com relação à data de fundação da nossa entidade e mesmo dos seus fundadores.  Ocorre que, em 1916, já existia nos Estados Unidos uma organização chamada Associação de Lions Clubes.  E que, antes de 10 de outubro de 1917, data divulgada oficialmente sobre nossa fundação, já existiam em território americano cerca de 30 Clubes de Lions, todos com a respectiva carta constitutiva em seu poder.  Dizem os pesquisadores mais antigos que, para não confundir com a entidade que estava em criação, adicionou-se a ela o termo “Internacional”, apesar da nossa entidade tornar-se verdadeiramente internacional três anos mais tarde, com a criação de um Clube no Canadá, conforme veremos mais adiante na exposição desta mensagem.  Esse fato, no entanto, não desmerece a extraordinária iniciativa dos nossos fundadores, que criaram essa que é hoje a maior organização de clubes de serviço em todo mundo.  Esse parêntese é apenas um registro, para não dizer que fiquei alheio àquilo que faz parte da nossa história.  Fecho o parentese).

            Durante o primeiro ano da fundação, os trabalhos do leonismo foram conduzidos pelo seu presidente, em seu escritório de Evansville, e por Melvin Jones com seu escritório de Chicago.

            Apesar da guerra que assolava os Estados Unidos, a Associação vinha num crescente vertiginoso e, no ano seguinte, em 1918, realizava a sua II Convenção em Saint Louis, ocasião em que o Código de Ética foi adotado, e é o mesmo que vigora até hoje.  Neste ano, a Associação contava com 40 clubes no território americano.

            Em novembro de 1918, Melvin Jones editava o primeiro exemplar do “The Clube Magazin”, com 28 páginas e em formato de bolso, que seria a precursora da futura revista “The Lion”.

            Em 1919, durante a III Convenção, realizada em Chicago, foram adotados os Objetivos (hoje Propósitos).

            Em 1920, durante a IV Convenção, realizada em Denver, estado do Colorado, foi aprovado o emblema do Lions, uma criação de Maurice Blink e que já havia sido adotado pela diretoria desde o dia 12 de abril deste mesmo ano, um mês após a Associação ter se tornado verdadeiramente internacional com a fundação do primeiro clube fora dos Estados Unidos, o clube de Windsor, em Ontário, no Canadá, fundado em 12 de março de 1920.

            Ainda em 1920 os negócios da Associação haviam passado para o próprio escritório de Melvin Jones, sendo transferido em fevereiro de 1921 para outro imóvel, na South Michigan Avenue n.º 322.  Permaneceu neste local até 1955, quando Lions Internacional adquiriu sua primeira sede própria, localizada na Norte Michigan Avenue n.º 209.  Mudou-se definitivamente para Oak Brook em 01 de julho de 1971, em solenidade que teve como orador principal o brasileiro João Fernando Sobral, que depois seria o nosso 1.º Presidente Internacional.

            Sob a liderança de Melvin Jones, que logo deixou sua agência de seguros para dedicar tempo integral ao leonismo, a organização cresceu em números e em serviços.

            A dedicação dos Leões no setor de ajuda aos cegos cresceu sobremaneira a partir do memorável discurso de Helen Keller, pronunciado na Convenção de 1925, em que ela concitou os Leões a se tornarem “paladinos dos cegos na cruzada contra a escuridão”.

            Cinco anos se passaram para que o leonismo ultrapassasse a fronteira para o terceiro país, com a fundação do clube Nuevo Laredo, no México.

            Em 1926 chegou a vez da China, com a fundação do Clube Tsingtao, em Tienstein.   Em 1927, Havana, em Cuba.   Depois ouve um hiato de 9 anos, e quando do seu reinicio o movimento leonístico tomou um impulso extraordinário, recomeçando pela América Central, com o clube Cristobal Colon, no Panamá, em 1935.

            O leonismo chegou à América do Sul através da Colômbia, em 1936, com a fundação do clube de Barranquilha.

            Em 1945 foi adotado, por concurso, de caráter internacional, o lema do leonismo:  “Nós Servimos”, do original americano “We Serve”.

            O leonismo chega à Oceania em 1947, na cidade australiana de Lismora.  Na Europa chegou em 1948, com a fundação do clube de Estocolmo, na Suécia.  No mesmo ano chegou à África, com o Marrakech, no Marrocos.

            Melvin Jones continuou como secretário-tesoureiro até 18 de julho de 1950, quando lhe outorgaram o título de secretário-geral, cargo que seria extinto com sua morte.

            Melvin Jones esteve à frente da Associação durante 44 anos.

            A 21 de junho de 1956, dois anos após a morte de Rose Freeman, Melvin casou-se com Lillian Radigam, que a ele sobreviveria.

            Completando o ciclo mundial, o leonismo chegou na Ásia no ano de 1956, na cidade de Bombaim, na Índia.

            O leonismo chegou ao Brasil em 1952, a 16 de abril, com a fundação do Lions Clube do Rio de Janeiro.

            Melvin Jones faleceu no dia 01 de junho de 1961, aos 82 anos de idade, em Floosmoor, subúrbio perto de Chicago.  Seu corpo foi velado durante quatro dias na Lain Chapel, sendo sepultado no dia 05 de junho de Mount Hope Cemetery.

            Esta breve história do leonismo é uma colaboração que presto aos estimados Companheiros-Leão e dulcíssimas Companheiras-Leão e Domadoras, especialmente aqueles que ingressaram mais recentemente em nosso movimento.

            Um fraterno abraço a todos e a todas.

                                                               PDG MJF ANTONIO DOMINGOS ANDRIANI

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